segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


"Vivam os meus inimigos! Eles, ao menos, não me podem trair."

- Henri Montherlant

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Controle Remoto


Alguém pode, por favor, me dizer o que eu quero, afinal?
Sabe, eu sinto saudade do meu avô?
Boêmio, experiente, dono de um coração bacana.
Um cara tranquilo, amante da História e casado com minha avó.
É pena que as pessoas não possam acompanhar o seu caminho. Elas te deixam antes do fim.
(Mesmo com toda admiração, em verdade, eu nunca soube bem o que se passava naquela mente.)
Enquanto surto com crises egoístas, lembro das cantigas que pus-me a dividir com ele.
(Era tão divertido e simples. Só cantarolar, sem se preocupar com a afinação, e rir.)
Um pedido de atenção não combina com a insensibilidade aplicada.
Quando vou, quero já voltar. Mas se volto, penso que seria melhor ter ficado.
Oras! Nunca vou estar certa do que quero? Que porcaria é essa?
Ah, é a minha vida? E eu fiz dela o que quis?
Eu não tinha percebido...
Mania feia, essa, de arrumar sempre em quem por a culpa.

Anestesia

Não quer tentar novamente?
Ah, me convença!?!
Eu não entendo porque quero tanto ENTENDER
O mundo vai girar, mesmo que eu não entenda
E as flores vão murchar, mesmo que eu não entenda
E o café vai esfriar, mesmo que eu não entenda
E eu não entendo mesmo.
Me diz, você, a solução!
Para que? Para a falta de comida, de educação, de saúde. Para a falta de segurança, de água e de sono; de sensibilidade, de cultura e dinheiro.
Ah, você não sabe?
Quem dera fazer a solução se desenrolar da minha mão, naturalmente, assim como a água escorrida por entre os dedos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tripulante

De cabeça para baixo,
debaixo da cabeça
Eu vejo um mundo ao contrário
Plebeu e princesa
E o universo arrumando uma solução para o mundo.
Vejo a dama e o vagabundo,
casamentos abençoados por Jah
E quem disse que, no meu mundo, nua eu não posso andar?
Eu quero, pois, viver sem precisar temer.
Quero tresloucar e tresmalhar.
As diferenças, jogar no liquidificador e triturar
Descalçar os pés e seguir a serviço do mundo, por ele sendo servida.
Diga-me: Em que se baseia sua vida?
É que ando um tanto duvideira...
E, ao me fazer a mesma pergunta, não obtive resposta.
Tenho pensado em duas mil quinhentas e trinta e sete coisas, e me considero uma estranha, muito estranha.
Aliás, não só uma. Não sei se sou uma, sou?
Por que não posso ser duas? cinco? dez? oitenta e três?
Quem me contou como uma?
Bem...
Não está nada bem!
Vou tentando disfarçar essa estranhura e continuo pensando... Essa raça humana é mesmo um veneno.
E essa tal de sociedade? Hmmmm. Que repugnante!
Penso se sobreviveríamos ao comum. Se bem que esse tal de capital nada me agrada.
Sonho em ser tresmalhado. Sonho com o dia em que não nasci. E eu ainda nem dormi.
Ah, doce utopia, és tão doce que chegas a enjoar.
É que, as vezes, vejo o nada e ele é tão convidativo...
Volta, mundo, ao caos que eras!
Já imaginei-me como uma consciência a vagar pelo caos genésico.
E, em razão, foi o mais próximo que pude chegar com os meus conceitos.
Próximo de que? Eu não sei.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Piercing (Zeca Baleiro)

"...Não me diga que me ama
Não me queira não me afague
Sentimento pegue e pague,
emoção compre em tablete
Mastigue como chiclete
jogue fora na sarjeta
Compre um lote do futuro
cheque para trinta dias
Nosso plano de seguro
cobre a sua carência
Eu perdi o paraíso
mas ganhei inteligência
Demência, felicidade,
propriedade privada
Não se prive não se prove
Dont't tell me peace and love
Tome logo um engov
pra curar sua ressaca
Da modernidade essa armadilha
Matilha de cães raivosos e assustados
O presente não devolve o troco do passado
Sofrimento não é amargura
Tristeza não é pecado
Lugar de ser feliz não é supermercado..."

                          Letra completa: http://letras.terra.com.br/zeca-baleiro/91984/

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Afresco

Acordei com um sorriso estampado na cara
Um humor pateticamente em alta.
A TV ainda me incomoda,
mas não estou preocupada agora.
A corda do varal partiu-se, mas apanharei as roupas amanhã.
Não é desleixo
Só me deixe aproveitar
enquanto a ausente angustia não volta.
Porque meu feijão com arroz tem um sabor diferente hoje
e a rapadura até parece mole.
O que há com essas toalhas molhadas em cima da cama?
É água. Só água.
É chuva. E com ela lavo minha alma (é, hoje, almas existem.)

Vida

Eu nasço
Mas alguém me perguntou se eu queria nascer?
E vivo uma existência de quereres e decisões
e dou um rumo à minha querida e fugaz vida
Mas aí eu morro
E alguém, por acaso, me perguntou
se era isso que eu queria? morrer?
E você vem me dizer que eu decido minha vida?
Aurélio Buarque me disse que vida é o espaço de tempo
que vai do nascimento à morte. Mas, veja bem,
Se eu não decido meu nascimento nem minha morte...
Que sentido tenho em decidir minha vida?
Ora, pois, grande merda é mesmo a vida.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um Brinde (Jarbas Albuquerque)

Viva ao belo dia de céu ensolarado, com suas gaivotas planando no ar.
Viva a nossa felicidade fingida de todos os dias.
Viva as mães que trazem pra cá pequenos novos sofredores.
Viva a um bando de líderes – déspotas que pouco sabem do que falam
e nada fazem de concreto.
Parabéns aos energúmenos estudantes de direito e medicina que esperam unicamente a chance de um salário melhor.
Viva aos nãos de cada dia, viva ao sim daquele dia.
Viva a burguesia parisiense que com seus estonteantes perfumes 
nunca sentiram o cheiro da vida real.
Saudações a claustrofóbica dondoca em seus belos saltos altos.
Viva a intransigência dos motoristas atrasados.
Alguém viu um dos nossos desgraçados da Central do Brasil que estava por aqui?
Alguém viu Deus que estava por ali?
Talvez da inconsciência repartida das mentes programadas da nossa sociedade, nada se vê, nada se sente.
Um brinde aos insensíveis que devem ser mais felizes.
Viva as horas de nossos relógios que passaram despercebidas.
Viva a escuridão de cada irmão que luta pela sobrevivência nos sub-bairros,
sub-mundos,sub-sociedades da nossa bela metrópole.
Viva a estúpida tirania dos chefes do tráfico.
Viva a estúpida burrice dos chefes de Estado.
Viva a vida, pois alguém disse que ela estava aqui.
Viva a quem disse que a vida é do lado de cá.
Viva aos seres humanos sobreviventes, viva.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

"Vamo" Comer (Caetano Veloso)


Vamos comer
Vamos comer feijão
Vamos comer
Vamos comer farinha
Se tiver
Se não tiver então ô ô ô ô

Vamos comer
Vamos comer faisão
Vamos comer
Vamos comer tempura
Se tiver
Se não tiver então
ô ô ô ô ô

Eu não sou deputado baiano
E, como dizia o outro, não sou de reclamar
Mas se estamos nesse cano não consigo me calar

É um papo de pelicano romântico
Aberto pro bico de quem alcançar
Quem quiser ver
Quem quiser ouvir
Quem quiser falar

Vamos comer
Vamos comer, João
Vamos comer
Vamos comer, Maria
Se tiver
Se não tiver então ô ô ô ô
Vamos comer
Vamos comer canção
Vamos comer
Vamos comer poesia
Se tiver
Se não tiver então ô ô ô ô

O padre na televisão
Diz que é contra a legalização do aborto
E a favor da pena de morte
Eu disse: não! que pensamento torto!

E a pretexto de aids, aids
Nunca se falou de sexo
Com tanta franqueza e confiança
Mas é bom saber o que dizer e o que não dizer,
Na frente das crianças

Merci beaucoup
Merci beaucoup, Bahia
Arigatô
Arigatô, Jamaica
E Trinidad
E Trinidad-Tobago ô ô ô ô

Brigado Cuba
Thank you, Martinica
E Suriname
Belém do Grão-Pará
Y gracias, Puerto
Gracias Puerto Rico ô ô ô ô

Baiano burro nasce, cresce e nunca pára no sinal
E quem pára e espera o verde
É que é chamado de boçal

Quando é que em vez de rico ou polícia
Ou mendigo ou pivete serei cidadão
E quem vai equacionar as pressões do PT, da UDR
E fazer dessa vergonha uma nação

Acônito


Quantas vezes preciso notá-lo olhando para mim e sorrindo, por consequência, para saber que há algo de diferente? Devo arriscar? É, devo arriscar. Mas e depois? O que é que tem depois? Você sabe, depooois. Ah, deixe o depois para depois. Você não quer seus beijos? Não quer sentir seus abraços? Você não quer tê-lo ao seu lado, quando acordar? Não quer receber seus brilhantes sorrisos, quando nada mais importar? Hmmmmm... Você não o ama? Talvez. Talvez? É; talvez. Se amá-lo significar entregar o rumo da minha vida para depois não ter por onde seguir, ou jurar, equivocadamente, amor pela eternidade... Não o amo. No máximo, estou apaixonada.

Relapso

Eu ando pela casa,
escorrego as mãos pesadas pelo rosto,
desligo a TV.
Estou tentando
Estou tentando

Encho o copo com uma dose,
ando mais um pouco
O copo está vazio
Eu estou vazia
Não. Eu estou cheia, mas queria estar vazia

Eu não quero lembrar, mas eu lembro
Eu lembro porque eu quero lembrar,
porque é bom
Mas, se é bom, por que dói?

Estou sentada
As mãos apoiam meu rosto
A maquiagem mancha minhas lágrimas
Acendo um cigarro, agarro meus joelhos
O silêncio me convence de que não há resposta.

O telefone? Não.
A campainha? Não.
Não adianta
Não há nada por aqui, além de mim.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Vida de Inseto.




Somos muito mais fortes do que dizem que somos. E você sabe, não sabe, Hopper?

Eu deveria ler, deveria comer, deveria dormir
Deveria ouvir uma boa música, deveria filosofar
Deveria sentir vontade, deveria desvincular-me de você
Eu deveria gritar, deveria correr, deveria fugir
Fugir de você
Eu deveria devora-lo, mastiga-lo, destruí-lo
Deveria matar você
Matar você em mim
Mais do que dor:
Solidão
Descobrir que, mesmo como lembrança, tenho você
Isso me torna até sociável
Só um pouco
Eu tenho saudade da minha infância, de quando me deslumbrava com coisas simples.Tenho saudades dos desenhos de uma década atrás. Desenhos inocentes e instrutivos, desenhos educativos. Não que eles não existam mais. Ainda existem, mas não são os que dão audiência.

Acho que isso tudo tem um propósito.

“A televisão educativa, por negar divertimento e oferecer programação cultural especializada, restringiu o acesso. A audiência constituía-se de pessoas de maior nível de escolaridade e renda que buscavam programação mais erudita, que se contrapunha à satisfação imediata oferecida pela televisão comercial. Viviam outra perspectiva de satisfação cultural, sem as recompensas imediatas dos programas de entretenimento.” (Schramm)

Não sei se era assim há dez anos.. Talvez fosse. Mas, o fato é que o que não me deslumbra são esses desenhos violentos e de raciocínio rápido, óbvio.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Estou apercebida
Acho que percebo o mundo ao redor
Percebo seus olhos
Movimento-me
Percebo que não sou capaz de perceber nem um terço do mundo ao redor
Luz, camêra, ações
Percebo mais uma vez seus olhos
Mas, desta vez, não só percebo
Sinto
Calo-me, guardo-me
Decepciono
Quero perceber novamente seus olhos
Quero senti-los a queimar minha pele como raios de sol
Erro meu,
Seus olhos não fazem mais parte do mundo ao meu redor.

Desejos


Estou olhando para você, meu caro
Estou a perceber os delicados e angelicais cachos presos em sua cabeça
Percebo o traçado dos seus olhos
Estou a observar o delinear de seus lábios
Desejo-os
Olho suas mãos, estou a percebê-las também
Olhe para mim, querido
Aproxime-se
Percebe meus olhos marejados?
E, agora, percebe meu calor?
Meus lábios contendo um sorriso, motivado pelo seu toque
Graciosos, percebo seus ombros nus
Borboletas se agitam em meu estômago
Sinto o granular de suas costas, arrepiada
E com beijos me tomas.
A consciência é bela
A memória é velha
A vontade veste preto
A emoção é jovem
A mente é sábia e o coração, usando uma bengala, se rende ao apelo.
Então, quer dizer que mesmo que eu faça o certo alguém fará o errado? "É" E por que diabos eu tenho que fazer o certo? "Porque alguém disse que era bom."
Olhos e boca. Olhares e bocas. Perfeição, por ora.
Eu preciso te guardar em mim
Guardar seu olhar e seu sorriso
Sabe-se lá quando poderei te ter por perto novamente
Eu preciso guardar o que eu tive de você: palavras
As quais escutei com toda a graça e interesse possível
Na verdade, eu queria te ouvir por bastante tempo, até enjoar
Queria te ouvir sussurrando, enquanto adormeço
Fico me perguntando o que seria melhor: se seu sorriso radiante ou se seu olhar que não consigo caracterizar
Melhor seria tê-los comigo
Seria?
Que egoísmo o meu!
Mas que frases... Poucas, mas, ainda assim, frases
Palavras, sorrisos, bocas, sensações.
E, por fim, guardar tudo isso em mim